segunda-feira, 30 de abril de 2018

Cantar vitória antes de tempo

Há quem se queira antecipar aos tribunais.

Para informação, a empresa Soenergy perdeu a acção de arbitragem que intentou contra a empresa Aggreko. Como consequência, a empresa Aggreko efectuou por sua vez um pedido de indemnização, sobre o qual o tribunal deve decidir. 

Através dos indícios já demonstrados de má-fé da empresa, em relação à sua concorrente, fica exposto o esquema político em que a Soenergy se deixou enredar, ao forçar o despacho de equipamento para Bissau sem acautelar as devidas garantias contratuais e perante evidentes manifestações de desinteresse. Tal como a Soenergy tentou apontar à Aggreko responsabilidade por omissão, será difícil ao Tribunal não discernir o tipo de negócio em causa, e as culpas demasiado evidentes no cartório, por parte dessa "empresa".

Sad, very saaad

O novo Secretário de Estado da Energia, um novato, apresenta-se e pretende desavergonhadamente ocupar o Gabinete do Ministro, e ainda considera uma afronta, ser-lhe diplomaticamente recusada tal possibilidade? Na orgânica deste governo, basta consultar a alínea f) do artigo 2º do decreto presidencial nº 8/2018, para ler: "A Secretaria de Estado da Energia funciona na dependência do Ministério da Energia, Indústria e Recursos Naturais." 

Esta provocação coloca em evidência que o referido Secretário de Estado está não apenas a quebrar a solidariedade institucional, a faltar ao respeito devido ao seu superior hierárquico, como ainda a tentar inverter as respectivas posições, promovendo a anarquia. Esta atitude inqualificável, levada a público com a clara intenção de prejudicar a imagem do Ministro Florentino Mendes Pereira, insere-se numa insidiosa campanha visando a decapitação do Secretário Nacional do PRS. 

Ninguém tem dúvidas quanto ao instigador desta campanha de carácter pessoal: Domingos Simões Pereira só tem medo de um concorrente e quer colocá-lo fora de competição na secretaria. Entre os Pereiras, sabe que o povo não hesitaria. Já Domingos não hesita em recorrer aos mais aberrantes expedientes para conseguir os seus maquiavélicos intentos, como prova mais esta inventona. Um Secretário de Estado é um simples coadjuvante e em certos países, como Portugal, é proposto pelo próprio Ministro.

O Secretário de Estado está a desperdiçar a sua energia numa estúpida tentativa de usurpação condenada a um triste fracasso. 

sexta-feira, 27 de abril de 2018

Levantamento das sanções

O novo Ministro dos Negócios Estrangeiros, João Ribeiro Có, assumiu, em declarações às rádios, que o Governo está a preparar uma nota à CEDEAO, a assinalar o cumprimento dos compromissos assumidos, requisitando o levantamento das sanções, as quais deixaram de se justificar, face ao empossamento do novo Governo de inclusão. A rapidez processual deve ser facilitada pelas recomendações nesse sentido de Robert Dussey, no relatório dando conta do sucesso da sua missão, com o cumprimento do roteiro estabelecido em Lomé.

quinta-feira, 26 de abril de 2018

Indignação de Didinho

A fúria de Fernando Casimiro traduziu a indignação de muitos guineenses. Até quando... (abusarão da nossa paciência).

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Fumo branco

A assinatura do Acordo foi celebrada com champanhe, pelo Presidente e Delegação da CEDEAO, tudo tendo corrido dentro da normalidade.

Composição do Novo Governo

26 pastas (18 Ministérios e 8 Secretarias de Estado)

Presidência de Conselho de Ministros e Assuntos Parlamentares - Agnelo Regala

Ministério dos Negócios Estrangeiros, da Cooperação e das Comunidades - João Ribeiro Có
Ministério da Economia e Finanças - Aristides Gomes, em acumulação de funções
Ministério da Defesa Nacional - Eduardo Costa Sanhá
Ministério do Interior - Mutaro Djaló
Ministério do Turismo e Artesanato - Vicente Fernandes
Ministério da Educação, Ensino Superior, Juventude, Cultura e Desporto - Camilo Simões Pereira
Ministério das Obras Públicas, Construção e Urbanismo - António Óscar Barbosa
Ministério da Administração Territorial - Ester Fernandes
Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos - Iaia Djaló
Ministério das Pescas - Adiatu Djaló Nandinga
Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural - Nicolau dos Santos
Ministério da Energia, Indústria e Recursos Naturais - António Serifo Embaló
Ministério dos Transportes e Comunicações - Mamadú Serifo Jaquité
Ministério da Reforma Administrativa, Função Pública e Trabalho - Fernando Gomes
Ministério dos Combatentes da Liberdade da Pátria - Aristides Ocante da Silva
Ministério da Comunicação Social - Victor Gomes Pereira
Ministério da Saúde Pública, Família e Coesão Social - Maria Inácia Có Sanhá

Secretaria de Estado das Comunidades - Queba Banjai
Secretaria de Estado da Gestão Hospitalar - Pauleta Camará
Secretaria de Estado da Energia - João Saad
Secretaria de Estado do Ambiente - Quité Djaló
Secretaria de Estado do Tesouro - Soleimane Seidi
Secretaria de Estado do Orçamento e Assuntos Fiscais - João Alberto Djatá
Secretaria de Estado do Plano e Integração Regional - Humiliano Alves Cardoso
Secretaria de Estado da Juventude, Cultura e Desporto - Florentino Fernando Dias

Acordo de princípio


O PAIGC e o PRS, no sentido de garantir "uma plena inclusão", finalizaram o acordo político pela repartição dos cargos de administração regional, estando neste momento reunidos para acertar a respectiva distribuição.

No respeito pelo espírito equitativo de resolução da crise, é dever de boa fé do novo Governo, a pronta solicitação formal de levantamento das sanções, a dirigir ao Presidente da Comissão da CEDEAO, Jean-Claude Brou, o qual enviará memorando ao Conselho de Ministros da CEDEAO para se proceder ao seu levantamento imediato. Efectivamente, considerando cumprido o Acordo de Conacri com as suas extensões, extinguiram-se as causas que provocaram essas consequências. 

Macky Sall defende levantamento das sanções

Macky Sall defendeu que, atendendo à evolução do processo negocial em Lomé, essas sanções (já de si ilegais) deixaram de se justificar. Robert Dussey está a desvirtuar o espírito de reconciliação conseguido em Lomé pelos Chefes de Estado, e, em vez de tentar facilitar as negociações, está de má fé a tentar bloquear o processo, insistindo em coarctar direitos políticos inalienáveis, garantidos pela Constituição da República, numa intolerável ofensa à soberania nacional. Em vez de mediador, o togolês pretende desempenhar o papel de actor na cena política nacional. 

sábado, 21 de abril de 2018

Opinar sem conhecimento de causa

Partilhar expectativas de que as coisas corram melhor, a título pessoal, é perfeitamente legítimo. Fazer sugestões concretas de melhoramento, é louvável.

Já falar por falar, apresentar dados supostamente concretos como adquiridos, quando não passam de pura especulação, invocando qualificações académicas sem anunciar em que área, para tentar dar credibilidade a um amontoado de banalidades baseadas em informações distorcidas é grave. 

"Mestre" Aliu Soares Cassamá não sabe do que está a falar, mas imagina-se um grande político. As suas ficções pessoais de entendido apenas dão destaque à sua pobreza de espírito. 

Os problemas começam logo pelo título do artigo publicado: como pode alguém pretender escrever sobre algo que nem sequer sabe escrever correctamente? A grafia correcta é electricidade e não "electrecidade".

Tenta fazer uma oposição ao "curto e médio prazo", mas depois entra em contra-senso quando fala num "horizonte 2018" (curtíssimo prazo). As suas palavras não são opinativas, mas normativas, estando claramente convencido de que se trata de uma autoridade no assunto. As suas ligações de ideias não fazem qualquer sentido, como quando fala do potencial hidroeléctrico, dizendo que o tempo de desenvolvimento dos projectos é longo, para logo depois se pôr a falar da actual situação. Fala de uma central eléctrica em Bissau, mas não se sabe de qual. Efectivamente, estão já em fase adiantada de programação, com financiamento garantido, duas centrais, uma térmica de 15MW, em Bor, e uma outra solar, de 20 MW, em Gardete, que deverão resolver os problemas de fornecimento de energia eléctrica à capital, num horizonte se menos de dois anos, caso não haja atrasos imputáveis à instabilidade política.

O BiM fez um pequeno inquérito e chegou à conclusão que a arrecadação diária é muito superior aos 3 milhões de CFA de que fala e o consumo de gasóleo para satisfazer toda a procura potencial é cerca de três vezes superior ao palpite avançado pelo pseudo-erudito. A empresa não recebe mensalmente 400 ou 500 milhões, recebe bem menos, pois 200 milhões vão directamente para a empresa sub-contratada e 100 milhões directamente para o fornecimento de gasóleo; além de que o valor recebido se situa muito abaixo do consumo facturado ao Estado. As pobres suposições de Mestre Aliu, de "má gestão" ou "desvio de procedimento" não levam em conta que a EAGB é uma empresa estruturalmente deficitária, devido à fixação do preço da electricidade muito abaixo do respectivo custo de produção. 

"Mestre" Aliu não acerta uma. Nem sequer nas taxas de juro dos títulos do tesouro, que são públicas, e se têm situado sempre acima dos 6% (e não "entre os 5% e os 6%), quando não mais de 7%, como se pode constatar aqui. Há quase dois anos que não se praticam essas taxas. Talvez devesse informar-se, fazer uma pequena pesquisa recorrendo ao Google, antes de pretender insinuar a sua autoridade no sector, que não sabemos de onde lhe advém, senão de um desmedido convencimento, para não falar de despropositada arrogância.

Por essa razão, as suas "recomendações", como a "construção de raiz de uma sede", deveria guardá-las para si, ou, no máximo, para o seu grupo de amigos no FaceBook, contentando-se com uns "gostos" e palmadinhas nas costas de quem se sinta na obrigação de lhe aturar as elocubrações. 

domingo, 15 de abril de 2018

Ida e Volta para Lomé

🔄 
Uns foram para Lomé confiantes e voltaram decepcionados. Entradas de leão, saídas de carneiro. Com os outros passou-se exactamente o contrário.

Parecia haver quem acreditasse que a Conferência se transformaria numa humilhação para o Presidente José Mário Vaz, esperando ver (de forma pouco patriótica), no Comunicado Final, uma clara imposição da CEDEAO, em termos ditatoriais. Contudo, nada disso aconteceu, e o texto do referido documento acautela respeitosamente a soberania nacional e o carácter endógeno da solução encontrada, referindo-se a uma decisão tomada pelo Presidente e validada pela Conferência. Os presidentes ficaram chocados com a ideia que lhes submeteram de ofender um congénere e viraram o bico ao prego, fazendo questão que constasse precisamente o contrário daquilo que o PAIGC queria projectar.

Pretende o PAIGC passar o resto da existência a chorar sobre o leite que derramou? A presente Conferência, expressamente dedicada, prevalece e enterra definitivamente o Acordo de Conacri. O PAIGC pode pois fazer o luto de Olivais e considerar os últimos dois anos como tempo ingratamente desperdiçado à espera do regresso de um barco naufragado. Ao contrário de Conacri, desta vez o endosso do Primeiro-Ministro é nominal. A margem de manobra para inventonas é nula. Resta alinharem de boa-fé no estipulado, de outra forma as comichões podem tornar-se incomodativas. 

Não vale a pena insistir em tentar propagar uma visão de Lomé que não corresponde à realidade. Se alguém foi humilhado em Lomé, foi quem tudo fez para tentar manipular o processo. 

quarta-feira, 11 de abril de 2018

Para ouvir só aos Domingos

A DW rendeu-se à reles propaganda do Heil Domingos. De tanto repetirem mentiras julgarão que estas se tornam em verdades? Na boa tradição de José Goebbels...

Já tinham sido os primeiros a papaguear a mentira de Marcel de Souza, que deu origem à presente crise política. Lembre-se o caso. O Presidente José Mário Vaz cumprira com a sua parte do Acordo, nomeando a 18 de Novembro de 1916 um nome da sua confiança para Primeiro-Ministro, entre os três que lhe haviam sido submetidos. Tinham passado três meses da sua nomeação ao abrigo do Acordo de Conacri, nunca a CEDEAO nem o auto-promovido a mediador Alpha Condé haviam proferido oficialmente qualquer declaração sobre o assunto, quando Marcel de Souza, de visita a Cabo Verde em meados de Fevereiro de 2017, tem um desabafo que a RTP filma e por 'feliz' acaso difunde, mas ao qual ninguém dá muita importância. 

Uma semana depois, no âmbito de uma entrevista exclusiva a Domingos Simões Pereira, a DW dá destaque a essa informalidade, autêntica inventona do entrevistado: "O único lamento que tenho é que tenha levado tanto tempo para o presidente da Comissão da CEDEAO tornar público" o nome de Augusto Olivais. 

Resumindo: passados três meses sem tomar qualquer iniciativa para denunciar o novo Primeiro-Ministro, Marcel vai a Cabo Verde ao Congresso do PAICV, onde se encontra Domingos e anuncia publicamente, em tom de carneiro mal morto, que, afinal, havia outro. Se tivesse de facto sido o nome de Olivais o escolhido, por que razão levaria este mentiroso três meses a reagir? 

Seria um Congresso partidário, de um Partido com fortes laços históricos ao PAIGC, o local mais indicado para anunciar uma decisão oficial da Comissão da CEDEAO, no contexto de uma mediação que se pretendia imparcial?

Atente-se nos paralelismos entre a anterior entrevista, com a maliciosa "notícia" hoje publicada. O presidente da república é ofendido sem direito a simples contraditório jornalístico e em termos agressivos, por um líder partidário arredado do poder (o qual, tal como o outro, não tem sequer legitimidade para falar em nome da totalidade da "bancada parlamentar" do seu partido). 

Impor o nome de um Primeiro-Ministro a um Presidente? 

Que pretende o entrevistado insinuar com "firmeza"? Uma solução musculada, ofensiva da soberania nacional, a adoptar pela CEDEAO? A DW reforça o fantasma, com a 'notícia' de que se esperam grandes novidades, numa cimeira dos "líderes" da CEDEAO (sem referir as fontes, tal como ontem a RFI), tendo por ponto único a situação na Guiné-Bissau... no "Sábado (15.04)".

Sábado é dia 14. Mas se a ideia é apostar nos Domingos... fica para 15. 

terça-feira, 10 de abril de 2018

Bai Lomé

Segundo artigo da RFI, que não cita a fonte, caso não se verifiquem avanços com as duas missões da CEDEAO à Guiné-Bissau, será convocada para Sábado uma Cimeira extraordinária dos líderes da organização, tendo por ponto único a discussão da situação de impasse vigente e a adopção de medidas. Mas em Lomé? Por decisão do Presidente da CEDEAO, que também é Presidente do Togo? Sabendo que o Presidente do Conselho de Ministros da CEDEAO, Robert Dussey (na fotografia, com Marcel de Souza), também é togolês. Porque não Bissau? O senhor Faure Gnassingbé não tem problemas de locomoção, anda sempre a viajar, ainda há pouco tempo passou por Abidjan. Conacri também é um dos seus destinos favoritos. Para quê ofender ainda mais a soberania da Guiné-Bissau? Quando aconteceu a crise do Mali, apanharam todos o avião para ir resolver o assunto in loco.

Sobretudo não existindo condições de segurança na capital togolesa, com a oposição determinada a promover manifestações de massa esta semana, apesar da sua proibição. Fica claro uma vez mais que o ditador sanguinário pretende utilizar o caso da Guiné-Bissau como diversão. De 10 a 13, já tinha uma reunião africana pelo desarmamento, para aumentar as medidas "de segurança". O dia 14 está previsto como o momento culminante das manifestações. Trata-se de arranjar pretextos para continuar a empatar as negociações sobre a situação no seu próprio país, para desespero do mediador, o Presidente do Gana. Será que, em caso de ruptura do processo negocial, e da ocorrência de uma grave situação de violação dos Direitos Humanos nas ruas de Lomé, se vai reciprocamente marcar para Bissau uma Cimeira extraordinária para tratar da situação no Togo? 

Apesar da gravidade do caso togolês, este parece paradoxalmente continuar fora da agenda da CEDEAO.

Jean-Claude brouille les pistes

Jean-Claude Brou, marfinense e novo Presidente da Comissão da CEDEAO, encontra-se desde Domingo em Dacar, devendo chegar hoje, dia 10 de Abril, a Bissau, por volta do meio-dia. Segundo referem os jornalistas senegaleses, quando foi por estes confrontado com a questão das sanções às personalidades guineenses, o diplomata preferiu evitar a questão (o artigo usa o equivalente à expressão de "chutar para canto"), respondendo que "é preciso deixar as coisas evoluir". 

No entanto, segundo o comunicado emitido pelo gabinete do representante local da CEDEAO, este manifesta-se disponível para responder às questões dos jornalistas, logo à sua chegada ao Aeroporto Osvaldo Vieira. Parece ser um bom sinal: esperemos que se estivesse a guardar para se pronunciar no sítio certo e se mostre menos reservado em Bissau do que em Dacar, quanto à questão das sanções. O Bardadi e Malgueta deixa aqui uma série de questões que gostaríamos de ver respondidas. 

Excellence, Monsieur le Président de la Commission de la CEDEAO, croyez vous que:

la base légale invoquée pour l'imposition des sanctions est appropriée à des individus considérés indépendamment des dirigents? 

la médiation a été conduite de façon adéquate, équilibrée, juste et impartiale, vis-à-vis des différentes parties prenantes à la crise?

l'absence de solution est susceptible de renforcer la capacité et la crédibilité de la CEDEAO par rapport à la résolution des crises?

un nouveau Président da la Commission ne doit jamais remettre en cause les orientations et décisions de son prédécesseur?

la situation d'impasse politique que l'on vit en Guinée-Bissau est la plus grave actuellement existante au sein de la Communauté?

la présence de deux missions de la même organisation en même temps et même lieu ne peut être signe de divergences internes?

segunda-feira, 9 de abril de 2018

Precisões necessárias



O DN acaba de publicar um artigo da Lusa sobre a Agência de Gestão e Cooperação (AGC), criada para gerir uma zona de exploração das águas territoriais colocadas em comum, entre o Senegal e a Guiné-Bissau. Trata-se de um assunto complexo, e por isso é desculpável que a superficialidade da abordagem jornalística não consiga penetrar nem traduzir aquilo que está em cima da mesa. O artigo não contem nada de novo, que não seja já do domínio público. Não constituindo novidade, devemos questionarmo-nos quanto à sua intencionalidade. Aparentemente, a mensagem é a de que o Presidente da República pretende favorecer a percentagem relativa aos hidrocarbonetos, e que o atraso nas negociações está a adiar o interesse de várias companhias internacionais de prospecção.

Vamos primeiro debruçar-nos sobre algumas precisões necessárias, para depois avançarmos com aquilo que, na nossa opinião, deveria ser o conteúdo de uma autêntica notícia sobre este assunto.

Afirma-se que a percentagem em litígio "ficou acordada na sequência de litígios judiciais em tribunais internacionais para os quais os dois países recorreram após disputas fronteiriças herdadas do colonialismo". A formulação é manifestamente infeliz. Para aqueles que conhecem o caso (e ainda há bem pouco tempo foi lançado um livro sobre o tema), foi precisamente o contrário. O que se herdou foi um acordo assinado (por troca de simples notas diplomáticas e quando a França já não dispunha sequer de legitimidade para o fazer, se considerarmos como verdadeira - trata-se de outra confusão - a data de 4 de Abril como a da independência do Senegal) entre as potências coloniais que estabelecia uma delimitação marítima (apenas) até às 12 milhas. A disputa não foi portanto herdada, mas estava aparentemente sanada (em claro desfavor da futura Guiné-Bissau, e sabe-se lá a troco de que contra-partidas). A disputa surgiu com a independência do novo Estado da Guiné-Bissau e a tentativa de delimitação da fronteira marítima por reivindicação do paralelo (ou azimute 270º, critério de fixação de todas as fronteiras congéneres para Norte) e com a descoberta tardia (e por mero acaso), por parte do Senegal, em 1977, dessa troca de notas já referida. Faltaria igualmente referir que o recurso se tratou num tribunal específico, de arbitragem. 

Outra imprecisão consiste em que, quando se refere a "denúncia formal", por parte do Presidente José Mário Vaz, que ocorreu no contexto de uma Comissão Interministerial expressamente criada para o efeito, se dá a entender ser iniciativa espontânea do Presidente, omitindo que o Acordo que está na origem da AGC tinha o prazo de 20 anos e previa a sua renegociação findo esse prazo, que expirara, sendo portanto naturalmente e na ordem das coisas o momento adequado para tal. A denúncia destinava-se apenas a prevenir que o Senegal invocasse, por falta de iniciativa da parte guineense, a extensão tácita do Acordo por igual prazo.

Para além de não se compreender qual a base em que foram efectuadas as contas de percentagens cedidas quando se afirma que "A Guiné-Bissau dispensou 46% do seu território marítimo (incongruência, pois território é em terra, como a própria raiz da palavra indica, eventualmente poderiam referir "águas territoriais") para constituir a ZEC e o Senegal 54%", uma vez que obviamente estas dependem da distância considerada às linhas de base, a formulação induz em erro o leitor, pois a referência é à área da ZEC e não ao "território" original. Parece assim que a zona comum engoliu mais de metade das águas territoriais do Senegal, o que não é o caso como facilmente se constata pelos mapas apresentados. No entanto, o mais grave de tudo isto, erro de palmatória quanto aos interesses da Guiné-Bissau (que a Agência noticiosa portuguesa deveria ter especial atenção em acautelar), é precisamente que a Guiné-Bissau nunca reconheceu nem prescindiu dos seus direitos ou reivindicações, a solução AGC vindo apenas para salvaguardar um desenlace desfavorável da sentença pronunciada pelo tribunal arbitral (e, para todos os casos, conforme declaração do seu presidente, aplicável apenas até às 12 milhas, não inibindo a reivindicação futura para além desse limite). Ou seja, não existe qualquer delimitação fronteiriça marítima, pelo que não se pode afirmar que "o Senegal dispensou" qualquer parte, ou quantificar essa parte.

Está truncado o parágrafo que refere que "Desde aquela altura, Bissau e Dacar têm vindo a conversar para obtenção de um novo acordo que está a impedir o início da abertura de novos furos, indicaram à Lusa fontes que acompanham o processo negocial entre os dois países". Faltou qualquer coisa como "o atraso nas negociações" para alimentar o "está a impedir". Este é realmente o ponto informativo, e, para ser uma verdadeira notícia, deveriam referir que já houveram rondas negociais, que a preparação técnica e qualificação jurídica dos negociadores guineenses se revelou muito superior à dos seus congéneres senegaleses, que há cerca de um ano que se deveria ter reunido nova ronda, coincidindo com uma visita do Presidente do Senegal a Bissau. Tanto a visita presidencial como a ronda negocial foram adiadas (e assim continuam, até hoje). A firmeza e sustentabilidade da posição guineense deverá conduzir a um resultado muito positivo para os interesses guineenses no Acordo de exploração comum, em bases mais equitativas. Mas, para que isso aconteça, deverão ser separadas as águas, entre os interesses superiores da nação e eventuais considerações de política conjuntural, bilateral e multilateral, no seio da CEDEAO.

No primeiro mapa, assinala-se a amarelo a ZEC. No segundo mapa, as delimitações marítimas para Norte. No terceiro e último mapa, a delimitação reivindicada pelo Senegal com base na troca de notas diplomáticas entre Portugal e a França em 1960: quem, em Cabo Roxo, se virar para Norte, a direcção de separação é indicada pelas 8h no seu relógio (azimute 240º).

quinta-feira, 5 de abril de 2018

Kumbosseria pabia di kampa di Kumba

Perante a incredulidade dos militares, em Amura.

A Lusa não perde uma oportunidade para evidenciar uma total parcialidade na crise política guineense, alinhando vergonhosamente com as estratégias do PAIGC. No seu artigo referente ao tributo prestado à memória de Kumba Ialá, por ocasião do quarto aniversário do seu passamento, todo o alinhamento dá a entender a intenção manifesta de prejudicar o PRS nas próximas eleições legislativas. Efectivamente, apresentam um partido histórico da democracia guineense, com implantação nacional e mais de 40% de representação parlamentar, em pé de igualdade com a APU, partido que nunca concorreu a quaisquer eleições, cuja representatividade é mais que duvidosa, sem disso dar a mínima nota aos leitores. Para reforço da ideia de paridade, focam a mesma ideia de legitimidade nas bocas de uns e de outros. Que um qualquer órgão proceda a estas habilidades, ainda se pode compreender, mas uma Agência noticiosa oficial? Atente-se que, depois de se referirem a uma irmã do falecido, que apresentam como neutra, no contexto de uma Fundação, da família referem apenas um sobrinho que terá abandonado o PRS pela APU, usando da estratégia recorrente de finalizar (em jeito de conclusão, para que as pessoas retenham a ideia), a favor das suas conclusões. 

Desde a abertura à democracia que o PAIGC fomenta a pulverização do eleitorado por uma multidão de pequenos partidos, para se colocar ao abrigo de qualquer alternância. E continua a recorrer a essa estratégia, numa fase mais avançada: lançando um satélite de último modelo, expressamente para tentar roubar votos ao seu principal adversário político e único que lhe pode fazer frente e constituir uma alternativa de governação, o PRS. Nada melhor, para isso, do que tentar apropriar-se da herança do seu líder histórico. Pretensão ridícula, pois todos sabem como os seus partidários desprezavam Kumba Ialá. Nuno pretendente a "substituto" de Kumba? Nem a brincar. Nuno Nabian tem tentado usurpar a herança política de Kumba Ialá, abusando do cenário especial das eleições presidenciais, altura em que este morreu de forma prematura. Morte que ainda está por esclarecer. Nuno, enquanto esteve com Kumba, era contra o PAIGC. Ou estaria apenas a fingir? De que lado estaria Kumba hoje, se não tivesse morrido? Junto de manipuladores de última hora, a mando dos seus eternos adversários, contra o Partido que foi a maior razão da sua existência?

"O sonho comanda a vida", como diz uma bela canção, que se aplica com toda a propriedade a Kumba Ialá. Sonhou libertar a Guiné-Bissau dos libertadores que se tornaram opressores. Quando isso acontecer, Kumba poderá finalmente descansar em paz na sua tumba. 

Gabú - Tambacounda

José Carlos Monteiro, Governador de Gabú, foi o convidado de honra das comemorações do 58º aniversário da independência do Senegal (4 de Abril de 1960), na cidade de Tambacounda, as quais incluiram vários desfiles. 

Sempre lado a lado do seu homólogo El Hadji Bouya Amar, ao longo da cerimónia, segundo a imprensa local, o Governador de Gabú mereceu todas as honras e uma parte substancial no discurso, que se referiu aos laços de amizade que unem os dois países, lembrando que são ambos membros da SAFRA, semana da amizade e fraternidade. 

O Governador anfitrião deu especial destaque ao desenvolvimento endógeno, defendendo que é a melhor resposta das regiões do interior, face às ameaças que pesam sobre elas.

terça-feira, 3 de abril de 2018

Quem usa e abusa da Lusa?

A UE não "concorda com política de sanções" (as quais nem sequer foram à Guiné-Bissau, mas a indivíduos) nem "optou por apoiar as sanções". 

A agência de (des)informação portuguesa produz uma (pseudo)notícia enviesada com base no diz que disse, quatro dias depois? Com base num blog? "Disse à Lusa fonte europeia"? Ou leram aqui? É que não acrescentam absolutamente nada, para além de meia dúzia de banalidades. 

Como compreender que a TSF (tolos sem fronteiras?), o Observador (cego?), o Diário de Notícias (notícias falsas e brevemente semanário), ou até a RTP (é melhor que não alinhem este nojo no écran) reproduzam acriticamente esta barbaridade? São órgãos de informação ou simples caixas de ressonância, de copy/paste automático? Se é para serem todos iguais e nivelarem por baixo, mais vale fundirem-se todos no mesmo esgoto.

Por incrível que pareça, só o Correio da Manhã parece ter revelado algum espírito crítico. Depois de publicada, apagaram a "notícia" e o link indexado no Google conduz a uma página de erro. Os parabéns da Direcção BiM, pela responsabilidade revelada neste caso e por terem evitado cair na esparrela de se tornarem mais uma "Maria vai com as outras". Como se aperceberam? É que tentaram resumir a notícia, como pudemos constatar, acedendo à notícia em cache. Foi o único órgão que mexeu no original. Ao tentarem confirmar, descobriram o rabo de palha e decidiram-se, e muito bem, pela sua eliminação.

PS Para mais esclarecimentos sobre este assunto, vem aqui consultar o blog BiM.

segunda-feira, 2 de abril de 2018

Dienderé denuncia Faure em tribunal

A publicação do processo verbal do julgamento do General Gilberto Dienderé, ex-Chefe de Estado Maior de Blaise Compaoré (assassino de Thomas Sankara e ditador burkinabé deposto por um levantamento popular a 31 de Outubro de 2014), permitiu descobrir a implicação de Faure Gnassingbé, através do fornecimento de armas, na tentativa de golpe de estado de Setembro de 2015 destinada a repôr o ex-presidente no poder.

O povo do Burkina Faso deu um bom exemplo, tomando os seus destinos em mãos. O ditador sanguinário Faure Gnassingbé não apreciou, mas não se livra de que lhe possa acontecer o mesmo, se o povo togolês se decidir a varrer o lixo de meio século que o tem oprimido.

Tiragem de dívida de vinte mil milhões

O anúncio das boas notas do FMI, nomeadamente o cumprimento de todos os critérios quantitativos de desempenho e metas indicativas, bem como um crescimento do PIB de cerca de 5,5%, foi acompanhado do lançamento de dois instrumentos de financiamento no mercado de capitais da UMOA, no montante de 10 000 milhões de francos CFA cada um.

As condições destes dois apelos ao financiamento podem ser visualizadas aqui. Preparámos uma tabela de resumo das emissões de títulos da dívida pública disponíveis neste site oficial. Os valores apresentam-se em milhões de FCFA, e as taxas em percentagem. O prémio é calculado a partir da diferença de venda das obrigações abaixo do valor nominal (10 000 FCFA) e dividido pelo período em anos. 


As cores evidenciam um rolamento da dívida: para pagar uma emissão que vence em certa data, tem-se feito nova emissão, um ou poucos dias antes. A emissão simultânea a realizar esta semana, não corresponde a esse padrão habitual. As próximas necessidades de refinanciamento ocorrem em Setembro e Outubro.

domingo, 1 de abril de 2018

Alphanóia

Um artigo de ontem dá conta de Alpha Condé se encontrar em plena paranóia, tendo militarizado o centro de Conacri, que está interdito à circulação automóvel e pedestre. Aparentemente, teme um golpe de estado, e não se fez rogado para enviar a Paris uma delegação, incluindo o Ministro da Comunicação, para promover a tese descabelada de que a oposição pensa realizar manifestações com milícias armadas (invertendo a verdade dos factos, pois é ele próprio e o seu partido que o têm feito, para intimidar a população). Acusando inclusivamente a oposição de matar os seus próprios apoiantes para acusarem o presidente. A tese é de que a oposição está a tentar usar a rua para se opor à "legitimidade" democrática emanada das urnas, quando todos sabem que os resultados das eleições locais de 4 de Fevereiro foram grosseiramente falsificados. A ideia nem sequer é nova, tendo sido lançada pelo Director da Redacção da revista Jeune Afrique, conhecido em Conacri como a "puta da caneta", por vender os seus odiosos posicionamentos aos ditadores africanos pró-FrançAfrique. Depois das manifestações em Paris, ontem, dia 31 de Março, foi a vez de Londres, onde os guineenses, que se sentem abandonados pela Comunidade Internacional, se manifestaram contra Alpha Condé frente ao número 10 da Downing Street

Alpha Condé, é indigno da presidência da União Africana. Alpha Condé é uma mentira. 

Hoje, dia 1 de Abril, fazem dez anos da ascensão ao poder do Presidente do Botswana, Ian Khama. O qual não quer ficar nem mais um dia à frente do país e, depois de uma volta de adeus, passa hoje o poder ao seu Vice, antes do fim do seu mandato, afirmando ter imensos projectos e querer manter-se afastado da política. Será por isso que este país é um dos mais estáveis de África, com as maiores taxas de crescimento? Por que razão será que, em vez de escolher os melhores exemplos, os presidentes africanos escolhem os piores? Quem boa khama fizer, nela se deitará...

Gabu (...) uti


Gabuuti é o nome do Djibuti em língua afar. Com pouco mais de metade da área da Guiné-Bissau, a sua configuração faz lembrar a do Kuwait, tendo em comum com este país e com a Guiné-Bissau o facto de a capital dar o nome ao país. O antigo Território francês dos Afars e Issas continua a albergar uma importante base militar francesa, a que se vieram depois juntar os americanos, alemães, japoneses, e, mais recentemente, a marinha de guerra chinesa. Este pequeno estado africano, muito árido, com cerca de metade da população da Guiné-Bissau, parece ter-se especializado em alugar o seu território para fins militares, pelo interesse geo-estratégico de vários países em controlar o estreito de Bab el Mandeb, a porta do Mar Vermelho. Por onde transita via marítima o enorme volume do comércio euro-asiático, que passa pelo Canal do Suez. A sua importância é tal que está no centro de uma polémica recente, a qual, devido ao complexo equilíbrio de poderes, pode, segundo alguns comentadores, dar aso a uma Grande Guerra africana ou mesmo mundial. 

Mas porque falamos deste pequeno país? Porque foi lá que se realizou na passada Terça-Feira dia 27, a sessão de iniciação do CPS (Conselho de Paz e Segurança) da União Africana. O mesmo Conselho debruçar-se-ia em briefing, sobre a situação na Guiné-Bissau, na passada Sexta-Feira, dia 30 de Março, pelas 15h00 locais, em Adis Abeba. Talvez o CPS devesse debruçar-se sobre a situação daquele pequeno país, em vez de perder tempo com um caso apenas político, que não coloca em causa nem a paz nem a segurança no continente. Mas, pelos vistos, o Conselho tem um problema sério na definição das suas prioridades. Nesse briefing, teria estado presente um representante da União Europeia, para além de Faustino Imbali e Aristides Ocante da Silva, pela parte guineense. Infelizmente, apesar dos nossos esforços, não nos foi possível confirmar a identidade desse representante, nem a versão oficial do seu contributo (ou do de outros), pois, apesar de estar prevista a sua publicação aqui, isso ainda não foi feito, nem pelo Twitter, outro canal previsto para o mesmo efeito pela organização. Consultámos igualmente a página oficial do Serviço da União Europeia para a Acção Externa, cuja delegação local na Guiné-Bissau é chefiada por Victor Madeira, mas também não há qualquer referência a este evento, nem na correspondente página do FaceBook. Mal haja alguma notícia, caso se justifique, voltaremos a reportar.


O teor da comunicação nesse briefing, feita "em nome da União Europeia", transpirou. Tal facto já não é novidade e insere-se no âmbito de um padrão de partilha privilegiada de informação oficial multilateral na blogoesfera guineense. Somos a favor da transparência, mas não deixamos de achar estranho. Quando a esmola é muita, o pobre desconfia.

"A UE apoia plenamente a CEDEAO nos (...) sanções"

(... seus esforços para manter a estabilidade na Guiné-Bissau, incluindo a recente decisão da CEDEAO, que foi endossada por este Conselho, de impor ...)

O referido comunicado é manifestamente tendencioso, e representa mal a UE, pois esta, se quisesse "apoiar plenamente", teria endossado as sanções, como o fez a UA (presidida pelo auto-proclamado mediador da crise guineense, Alpha Condé). Quem quer que seja que tenha assumido a sua paternidade (salvo erro igualmente tendencioso de tradução para consumo interno) prestou um mau serviço à União Europeia e excedeu claramente as suas atribuições, confundindo desejo com realidade, dando aso a interpretações erróneas. Talvez esteja na hora de a UE colocar um ponto final neste género de abusos. Para a correcção que se impõe, basta trocar duas letras, e onde está "in"cluindo ler "ex"cluindo.

A propósito, ou a despropósito, lembramos que o representante da UE em Bissau foi um dos principais responsáveis pela criação do tendencioso clima de parcialidade em relação à crise política guineense, envolto em desinformação, que culminaria na imposição de sanções ilegais a uma lista de indivíduos, por parte da CEDEAO. José Rodrigues dos Santos, célebre jornalista e escritor português, não se coibiu de criticar fortemente Victor Madeira por causa dessa parcialidade, a quem o quis ouvir, à margem do V encontro da plataforma das entidades reguladoras da comunicação social dos países e territórios de língua portuguesa, realizado em Bissau, em finais de Outubro de 2016.