domingo, 1 de abril de 2018

Gabu (...) uti


Gabuuti é o nome do Djibuti em língua afar. Com pouco mais de metade da área da Guiné-Bissau, a sua configuração faz lembrar a do Kuwait, tendo em comum com este país e com a Guiné-Bissau o facto de a capital dar o nome ao país. O antigo Território francês dos Afars e Issas continua a albergar uma importante base militar francesa, a que se vieram depois juntar os americanos, alemães, japoneses, e, mais recentemente, a marinha de guerra chinesa. Este pequeno estado africano, muito árido, com cerca de metade da população da Guiné-Bissau, parece ter-se especializado em alugar o seu território para fins militares, pelo interesse geo-estratégico de vários países em controlar o estreito de Bab el Mandeb, a porta do Mar Vermelho. Por onde transita via marítima o enorme volume do comércio euro-asiático, que passa pelo Canal do Suez. A sua importância é tal que está no centro de uma polémica recente, a qual, devido ao complexo equilíbrio de poderes, pode, segundo alguns comentadores, dar aso a uma Grande Guerra africana ou mesmo mundial. 

Mas porque falamos deste pequeno país? Porque foi lá que se realizou na passada Terça-Feira dia 27, a sessão de iniciação do CPS (Conselho de Paz e Segurança) da União Africana. O mesmo Conselho debruçar-se-ia em briefing, sobre a situação na Guiné-Bissau, na passada Sexta-Feira, dia 30 de Março, pelas 15h00 locais, em Adis Abeba. Talvez o CPS devesse debruçar-se sobre a situação daquele pequeno país, em vez de perder tempo com um caso apenas político, que não coloca em causa nem a paz nem a segurança no continente. Mas, pelos vistos, o Conselho tem um problema sério na definição das suas prioridades. Nesse briefing, teria estado presente um representante da União Europeia, para além de Faustino Imbali e Aristides Ocante da Silva, pela parte guineense. Infelizmente, apesar dos nossos esforços, não nos foi possível confirmar a identidade desse representante, nem a versão oficial do seu contributo (ou do de outros), pois, apesar de estar prevista a sua publicação aqui, isso ainda não foi feito, nem pelo Twitter, outro canal previsto para o mesmo efeito pela organização. Consultámos igualmente a página oficial do Serviço da União Europeia para a Acção Externa, cuja delegação local na Guiné-Bissau é chefiada por Victor Madeira, mas também não há qualquer referência a este evento, nem na correspondente página do FaceBook. Mal haja alguma notícia, caso se justifique, voltaremos a reportar.


O teor da comunicação nesse briefing, feita "em nome da União Europeia", transpirou. Tal facto já não é novidade e insere-se no âmbito de um padrão de partilha privilegiada de informação oficial multilateral na blogoesfera guineense. Somos a favor da transparência, mas não deixamos de achar estranho. Quando a esmola é muita, o pobre desconfia.

"A UE apoia plenamente a CEDEAO nos (...) sanções"

(... seus esforços para manter a estabilidade na Guiné-Bissau, incluindo a recente decisão da CEDEAO, que foi endossada por este Conselho, de impor ...)

O referido comunicado é manifestamente tendencioso, e representa mal a UE, pois esta, se quisesse "apoiar plenamente", teria endossado as sanções, como o fez a UA (presidida pelo auto-proclamado mediador da crise guineense, Alpha Condé). Quem quer que seja que tenha assumido a sua paternidade (salvo erro igualmente tendencioso de tradução para consumo interno) prestou um mau serviço à União Europeia e excedeu claramente as suas atribuições, confundindo desejo com realidade, dando aso a interpretações erróneas. Talvez esteja na hora de a UE colocar um ponto final neste género de abusos. Para a correcção que se impõe, basta trocar duas letras, e onde está "in"cluindo ler "ex"cluindo.

A propósito, ou a despropósito, lembramos que o representante da UE em Bissau foi um dos principais responsáveis pela criação do tendencioso clima de parcialidade em relação à crise política guineense, envolto em desinformação, que culminaria na imposição de sanções ilegais a uma lista de indivíduos, por parte da CEDEAO. José Rodrigues dos Santos, célebre jornalista e escritor português, não se coibiu de criticar fortemente Victor Madeira por causa dessa parcialidade, a quem o quis ouvir, à margem do V encontro da plataforma das entidades reguladoras da comunicação social dos países e territórios de língua portuguesa, realizado em Bissau, em finais de Outubro de 2016. 

2 comentários:

  1. Victor Madeira é useiro e vezeiro nesse género de ingerências. Deveria ser declarado persona non grata e expulso, depois de coberto de alcatrão e penas.

    ResponderEliminar