sábado, 3 de março de 2018

Fábrica sem fim


O Presidente da República visitou uma fábrica de transformação de frutas, localizada em Safim, cuja construção, financiada por um banco indiano, ficou também a cargo de uma empresa indiana. Pouco antes da conclusão das obras, a referida fábrica foi visitada, a 24 de Abril de 2015, pelo então Primeiro-Ministro, Domingos Simões Pereira.

José Mário Vaz mostrou-se irritado, pelo desperdício de a fábrica continuar inoperacional, três anos após a sua construção. Fica bem ao Presidente mostrar-se interessado pelo desenvolvimento do país, e envolver-se pessoalmente na tentativa de resolução de eventuais bloqueios. No entanto, soa a demagogia avançar com um prazo de "um mês" para ver a fábrica a funcionar: se a fábrica está inoperacional há três anos, Jomav já é presidente há três anos e meio. 

O Presidente propõe-se reunir com o Embaixador da Índia, como forma de fazer avançar as coisas. No entanto, segundo as informações prestadas por Carlos Vaz, não se tratou de uma doação desse país, mas sim de um financiamento a 25 anos, dívida contraída pelo Estado, que detém a propriedade da fábrica. Fará pois sentido pedir contas ou falar de procurar uma "solução em conjunto", se os dados do problema o colocam como sendo estritamente interno? Não será essa uma forma de lavar as mãos, em vez de fazer o trabalho de casa?

Ficam no ar algumas questões, entre elas: quanto aos objectivos desta fábrica; em que política económica se inseriam (sabendo que o Estado guineense há muito que perdeu a sua vocação industrial); em que moldes de iniciativa e de figura jurídica estava prevista a sua entrada em funcionamento; como seria efectuado o seu aprovisionamento em matérias-primas; quais os mercados a que se dirigia e estratégias de marketing, etc. 

Apurar e partilhar a informação, talvez fosse um procedimento mais adequado e eficaz. Sem esse esforço de transparência, o louvável voluntarismo demonstrado pelo Presidente corre o risco de se revelar inconsequente, tal como a fábrica que visitou.

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