terça-feira, 20 de março de 2018

Alerta fito-sanitário

O presidente da Associação de Agricultores da Guiné-Bissau (ANAG), Jaime Gomes, alertou hoje para a propagação de várias pragas que afectam o cajueiro. Uma delas, decerto pela sua vulgarização, até já mereceu a atribuição de uma designação própria por parte dos agricultores: serra-cajú. Trata-se de um insecto que mina os troncos, até que caem. Mas há outras pragas que "atacam o caule, há outras que atacam as folhas, outras ainda que comem as flores".

Sabendo que o cajueiro é uma planta alienígena, introduzida na Guiné-Bissau há pouco mais de meio século, há o perigo real de uma praga nova poder ter um efeito fulminante sobre os pomares, à falta de predadores naturais. O que, conhecendo a dependência quase exclusiva do país em relação à produção, seria trágico e poderia ter resultados devastadores para a economia familiar e do país. Aponte-se como exemplo da incúria com que as autoridades tratam estas ameaças, o caso de Portugal: a chegada de um escaravelho, julga-se que com origem em Marrocos, reproduziu-se rapidamente por falta de inimigos e destruiu em pouco tempo a quase totalidade das palmeiras do país, deixando a paisagem de certas localidades, como Peniche, tristemente desolada.

Se, até aqui, a situação não parece ser excepcionalmente alarmante, as pragas atacando sobretudo as plantas mais velhas, isso não impede que, devido à importância estratégica da cultura do cajueiro, não seja criada uma célula fito-sanitária que se dedique ao estudo das pragas que afectam o cajueiro, à sua monitorização no terreno, a equacionar tratamentos e formas de as prevenir. Uma das maiores preocupações de Amílcar Cabral, após ter acabado o curso de Agronomia e ter vindo até à Guiné, no princípio dos anos cinquenta, era precisamente a segurança fito-sanitária, tendo publicado um pequeno opúsculo sobre o assunto.

Apesar da multiplicação de Associações, muitas vezes em sobreposição, pouco ou nada se tem feito, para além deste género de alertas, quanto ao ordenamento desta cultura, que, segundo o engenheiro florestal Constantino Correia afirmou, há menos de um ano, poderia render duas ou três vezes mais, se feita de forma organizada. 

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