terça-feira, 20 de março de 2018

Manobras dilatórias de Faure

A poucas horas de mais uma vaga de quatro dias de manifestações que deverão varrer o Togo, o principal opositor de Faure Gnassingbe, Tikpi Atchadam, presidente do PNP (Partido Nacional Panafricano) acusa o Presidente de sabotagem do diálogo e de usar este como um dispositivo para travar o ímpeto do povo, que o quer ver destituído. "A paciência do povo tem limites face à teimosia do governo. (...) É preciso dizer a verdade a Faure. E se ele não quiser ouvi-la, impor-lha, nem que seja pela força". Considerado como ponta de lança da alternância, pisca o olho à Nigéria, para que tome em mãos os destinos da CEDEAO, como primeira potência militar da África ocidental e se torne a "força dos povos fracos da sub-região".

O colectivo de 14 partidos que estão na origem da convocação das manifestações reuniu no princípio da semana passada com um general do exército nigeriano, na embaixada da Nigéria em Lomé. Um artigo da imprensa togolesa levantava a questão de se deveria ser encarada a hipótese de uma solução ao estilo da Gâmbia, atendendo ao denominador comum que é a luta pela conservação do poder por parte de um único indivíduo. Acrescente-se que, uma vez que um país francófono ocupou um país anglófono, seria legítimo um país anglófono proceder à reposição do equilíbrio sub-regional, com base nesse precedente. 

Segundo o mesmo artigo, o Presidente Buhari estima que os problemas de alternância são uma das razões que impedem as populações africanas de se concentrarem no desenvolvimento. Talvez por isso tenha boicotado a Cimeira da UA, manifestando o desagrado pela deslocação a um país onde o Presidente (como o seu vizinho de Bujumbura), violou os acordos estabelecidos e alterou a constituição para obter um terceiro mandato e se manter no poder. A carta da CEDEAO prescreve a limitação a dois mandatos do exercício do poder presidencial. Carta à qual nem o presidente togolês nem o guineense querem aderir.

Mas o que é que está em causa? É a esperteza saloia de Faure Gnassingbé, que pretende contornar as regras recorrendo a uma habilidade. Está em cima da mesa um referendo para o retorno à Constituição de 1992, a qual limita a dois os mandatos presidenciais. No entanto, Faure faz finca pé para que esta não seja "retro-activa", o que lhe permitiria, depois dos três mandatos já cumpridos, fazer ainda mais dois, mantendo-se por mais dez anos no poder. 

E, para isso, espera contar com o apoio da maioria dos chefes de Estado, mesmo que envergonhadamente, como é o caso do presidente do Senegal, segundo um outro artigo do mesmo jornal togolês: "Em privado, Macky Sall julga desapropriada a vontade de exigir a partida de um presidente que não foi deposto pelas urnas (pretendendo assim defender a sua conquista, sem oferecer o flanco). Alpha Condé (interessadamente, pois agrada-lhe o precedente, uma vez que pensa imitar Faure) também partilha essa tese. Apoiando-se no clube dos chefes de Estado (controlados por Paris), Lomé tenta dividir os seus adversários." Mas essa maioria é relativa, pois os países são de dimensões diferentes e a Nigéria tem mais população só por si que todos os restantes países da CEDEAO juntos! 

Mesmo que a opção militar não venha a ser tomada, o Presidente Buhari já disse que, por enquanto, Faure detem infelizmente a Presidência da CEDEAO. Mas, segundo artigo do jornal L'Alternative, "se até Junho, quando acaba o seu mandato, a situação togolesa não conhecer desenvolvimentos positivos, Faure Gnassingbé passará por dias bem complicados. O pau que usou desajeitadamente contra a Guiné-Bissau, será o mesmo que os seus colegas utilizarão contra ele". Legitimamente, acrescente-se.

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